terça-feira, 27 de março de 2012

A Questão da Salvação

Quase todas as religiões se baseiam na premissa, ou na ideia de que o ser humano precisa de salvação. Esta salvação é sempre algo pouco definido, uma ideia meio vaga, porque os motivos pelos quais o ser humano está perdido variam muito. Algumas pregam a existência de inferno como um lugar de tormentos para castigar o pecador, outros acreditam que o inferno é "um estado de espírito", outros acreditam que precisamos ser salvos de nossa maldade, outros ainda, acreditam que precisamos ser salvos da escuridão e conseguimos isso nos aperfeiçoando em sucessivos renascimentos rumo à Luz. Há quem acredite que nem existimos, somos só um pensamento da divindade e em desarmonia com esta divindade e nos salvamos quando nos harmonizamos com ela e assim retornamos para nos unir com ela. Então é difícil saber do que nos perdemos quando nos orientamos pelos pareceres, ou ainda, pelas opiniões dos religiosos à nossa volta.
Para conseguir expressar o que pretendo tratar, vamos usar como referência o conceito cristão. Mesmo entre os cristão o conceito de salvação é confuso. Há quem acredite em inferno e quem não acredite. Há quem acredite em vida eterna e a quem não acredite. Porém, a grande maioria acredita em inferno e que para não ir para lá precisamos de salvação. Vamos nos orientar pelo conceito da maioria.
Em Genêsis encontramos o relato em que o ser humano desobedece ao seu Criador e como conseqüência surge o pecado, com o pecado vem a morte. Esta morte é encarada, às vezes como castigo físico, outras vezes como castigo espiritual ou mesmo das duas formas. Quando é visto como castigo físico, entende-se que a morte física foi o resultado do pecado. Quando é visto como espiritual tem duas formas, viver separado de Deus em sua existência aqui mesmo ou ser lançado no inferno após a morte. Aqueles que vêem de uma forma mais ampla acreditam que têm implicações imediatas, ou seja, a morte física, a morte espiritual aqui mesmo vivendo separado de Deus e no futuro o inferno.
Creio que a perdição humana se torna patente, isto é, perfeitamente visível em suas ações. Creio que o ser humano é mal por natureza, assim sendo, tende ao mal em tudo o que faz. Basta olhar em volta e perceber quanto mal se produz em todos os sentidos para com tudo ao seu redor. Toda a criação ao seu alcance sofre as conseqüências desta maldade, portanto, vejo uma criatura completamente perdida. Os estudos e pesquisas demonstram que o homem necessita de algo poderoso o suficiente para eliminar esta maldade. Como não creio que o ser humano possa melhorar a si mesmo, acredito que necessite de um salvador, alguém que possa regenerá-lo (dar-lhe uma nova estrutura que possibilite escapar desta natureza maligna, uma nova vida). Até aqui, praticamente todas as igrejas concordam. As divergências ficam em torno do processo da salvação e do resultado final, ou seja, é um benefício pra sempre ou pode ser perdido?
Penso que se quisermos compreender esta questão, teremos que ir ao cerne, a centro nervoso deste tema. O pensamento predominante em nosso tempo é humanista, este é o grande problema. Não é um pensamento novo, já existia antes do cristianismo, porém, ganhou força em todas as áreas da vida humana com amplitude global nos fins da Idade Média através do movimento Iluminista, movimento este responsável pela Revolução Industrial e o Renascimento. Alguns historiadores vêem este momento como o resgate da raça humana; como a concretização do "Mito da Caverna", a humanidade saindo das trevas para a luz. Pura mentira, foi o passo mais profundo para as trevas. A humanidade foi lançada no poço do abismo em queda livre. O humanismo e o iluminismo têm como base o amor ao dinheiro. Não importa o que digam, só os entenderemos observando como agem, e quais são seus reais valores. A teologia não é excessão, é fruto desse pensamento humanista gerado no âmago do iluminismo. Daí que se não entendermos isso não poderemos entender a questão da salvação. Para a teologia humanista que temos, tudo tem que ser explicado pela mente. A verdade só é aceitável através da razão. Assim sendo, a verdade não emana de Deus, mas sim homem pensante (homo sapiens). O primeiro ponto a se considerar é: uma vez que a mente humana tem que aprovar a fé, a autoridade máxima é o ser humano. Visto que a fé é chancelada pela autoridade da razão humana e esta está sujeita ao ser que a possui então, o sagrado está sujeito ao humano. Portanto, o ser humano é deus de Deus e não o inverso. Outra questão é que a razão não é absoluta, ela não pode se firmar em si mesma, ela está condicionada à mente a qual pertence; como dizia os antigos "cada cabeça uma sentença". Sendo a mente um objeto que pertence ao universo particular, torna-se impossível que a mesma estabeleça uma verdade universal, daí, o grande número de filosofias e religiões. Neste universo brota a soteriologia tentando entender como é que Deus salva. Surgem os conflitos das sentenças de cada cabeça produzindo as várias religiões que conhecemos. Todas se dizem sujeitas a Cristo e por vários assuntos, inclusive a salvação estão digladiando entre si, isto é, um combatendo o outro. Hoje isto se dá no campo das ideias, entretanto, muito sangue humano foi derramado em nome de Jesus para salvar os incautos, ou, aqueles pobres ignorantes que não sabiam se cuidar e tinham que ser protegidos de si mesmos ainda que para salvá-los fosse preciso matá-los. Não foram poucos os que foram mortos para salvarem suas vidas. Mortos em fogueiras, estraçalhados em "batalhas santas" chamadas cruzadas, jogados aos leões e outras feras, torturados das mais variadas formas por aqueles que se dizem "vicari Fili Dei", representantes (ou substitutos) do Filho de Deus.
Então, até mesmo a salvação se tornou infectada com esta ideia de que ela precisa ser entendida com a mente para ser aceita. Mesmo os que se dizem Calvinistas se perdem ao tentar explicar o que se tem apenas de crer, e que crendo ou não, não fará diferença alguma para o resultado final. O que estou dizendo é que, precisamos entender que nada no universo, seja o que vemos como o que não vemos, existe ou acontece por acaso. Cada detalhe do nos cerca faz parte de um plano infalível decretado por Deus. Neste plano infalível e perfeito cada detalhe é regido por Deus que não tem que prestar conta alguma à razão humana. Quando Deus decide se salva ou não, não tem capricho ou arrogância, é só uma diretriz em seu grande plano. Aí alguém, assim como o Vinícius de Morais e Toquinho já disseram, diz: "se foi pra desfazer por que é que fez",   ou como dizem outros: " Deus é perverso, cria o homem só para fazê-lo sofrer" e etc. A arrogância humana não aceita que Deus faça com sua criação o que bem queira, porque o homem, quando o faz, o faz só por ser arrogante. Deus não é arrogante, Ele só tem um plano para sua criação e cuida para que este plano se cumpra até o final, aliás, já que Deus é eterno, por que suas obras teriam um final?
Tudo o que fazemos é resultado de um plano. Sem planos não poderíamos realizar nada do que existe, nem habitação, nem variedade de alimentos e processos de cozer, nem tecnologia, nem conhecimentos diversos, nada, absolutamente nada. Se precisamos de planos para ser bem sucedidos, Deus seria menos inteligente do que nós?
A salvação, a perdição, a vida, a morte e cada minima mudança no universo corresponde ao plano perfeito de Deus. Então, deixemos de arrogância e aceitemos este plano, é a única atitude inteligente que nos resta. Ainda voltarei a este assunto para pensarmos em outros aspectos. Quem tem ouvidos, ouça...

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