quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Por que existo?

    Nasci em uma família pobre de São Joaquim da Barra, interior de São Paulo. Uma tia minha conta que quando nasci não havia em casa um grão de alimento, ela tinha oito anos de idade e tomou a decisão de sair até o centro da cidade e pedir ajuda. A população se dispôs a ajudar a ela conseguiu arrecadar alimentos que não conseguia carregar, portanto sou um homem que já nasceu devendo. Já nasceu em dificuldade e sofrimento e tem vivido, em boa parte destes elementos. Porém, estes elementos me forjaram para ser a pessoa que sou, pois foram eles que Deus usou para preparar como mensageiro de uma mensagem tão difícil de transmitir.
    Quando consigo me lembrar de quem eu sou, minhas primeiras lembranças, já são de um lugar, uma fazenda chamada Naninho, que era propriedade de um senhor chamado Adelino, nas proximidades de um vilarejo chamado Capelinha, na rodovia que vai de Franca para Barretos. Meus pais já haviam se separado, como foi antes, não me lembro. Lembro que meu pai morava com sua nova mulher chamada Mercedes num dos cômodos da tapera, um casarão abandonado na fazenda e cedido a nós pelo senhor Adelino. Meu pai se mudou com sua nova esposa e ficamos eu e um irmão mais velho do que eu com meus avós.
      Crescemos enfrentando grandes dificuldades, falta de roupas (geralmente tinhamos roupas ganhadas de outras pessoas muitas vezes maiores ou menores do que nós), calçados (que às vezes nós apertavam os pés por serem menores, outras vezes, tinhamos que encher o bico com jornais velhos para preencher), de comida (me lembro quando nossa refeição foi uma gibóia, outro dia um gambá, e outros animais silvestres que dessem sopa, porém o dia mais dramático foi, quando minha avó lavou um pouco da lavagem dos porcos que ajuntava para um fazendeiro e refogou novamente para jantarmos), materiais escolares (éramos sempre alunos da "caixa") e de dinheiro, nem se fala. Minha avó nos sustentava com lavagem de roupas para outras famílias e meu avô que havia sofrido derrame, pedia esmolas nas ruas da cidade.
       Quando comecei a trabalhar, nem pensava em ter meu dinheiro, a família necessitava dele e eu nem sentia falta. Apenas, quando queria ir ao cinema,era meu vício, já que não tínhamos tv. Aprendi cedo que Deus era um Deus de provisão. Vivia achando dinheiro na rua para ajudar em casa. Não me esqueço que na adolescência eu queria ir ao cinema e minha avó, possivelmente por dó, pediu emprestado a um vizinho o que seria hoje R$ 3,00 para eu poder ir. Não me senti muito à vontade com a atitude dela. Fui me sentindo incomodado, mas recusar a ir depois do sacrifício que ela fizera me pareceu mais incomodo ainda. Quando voltei, próximo a uma parede havia um volume de notas dobradas; R$ 33,00. Minha avó pode devolver no dia seguinte os R$ 3,00 reais e ainda sobrou R$ 30,00 para ajudar em casa. Deus não nos promete riquezas, para mim isso é tolice. O mundo pertence a Deus. Diz o salmo 24.1 "Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam". A presunção humana leva-nos a nos apossar daquilo que não nos pertence para explorar e oprimir nossos semelhantes. As pessoas dizem se Deus é bom por que a tanta miséria? Deus fez o suficiente para todos, porém a ganância de poucos aliada a ignorância de muitos faz com que a miséria e a injustiça cresça sem medida. Cada um de nós, de alguma maneira, por ação ou omissão promovemos a injustiça, a fome e a miséria e temos a petulância de acusar Deus. Quando vejo "homens de Deus" induzindo fiéis a acumulação de riquezas para mostrar a glória de Deus, sinto vergonha, pois é exatamente o que Deus não deseja, que poucos tenham muito e muitos tenham pouco. Sei que tudo o que acontece é por permissão dele, entretanto, isso não nos exime de  nossa culpa por sermos quem somos: raça de víboras.
         Me encontrei com Jesus na minha adolescêcia. Numa reunião da CEB (Comunidade Eclesial de Base). Não tinha nem idéia de onde estava me envolvendo, mas Deus que tudo sabe dirigia a minha vida, assim como está no salmo 139.16: "Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado quando nenhum deles havia ainda". Ele guiou os meus passos naquele lugar.  Jesus se revelou a mim numa noite de oração em frente ao sacrário. Quando falei com ele senti que alguma coisa começou a mudar profundamente em meu coração. Foi como se apaixonar, o mundo parecia diferente, as pessoas pareciam diferentes, tudo a minha volta parecia cintilar com luzes que enchiam meu interior de alegria e paz. Dias depois comprei uma bíblia e comecei uma caminhada em busca da verdaede. Em pouco tempo vi que a verdade da bíblia não conferia com a verdade pregada pela religião que eu pertencia. Não sai correndo em busca da verdade em outro lugar. Comecei a indagar ali mesmo por que a discrepância entre os textos bíblicos e o ensino da igreja. Na maioria das vezes os padres concordavam com meu ponto de vista, mas diziam que seus ensinos não se baseavam só na bíblia mas também nas tradições. Qualquer pessoa que tenha o hábito de ler a bíblia sabe que Jesus reprovou a tradição como elemento de fé inúmeras vezes e foi severo ao classificar como hipocrisia. Continuei por mais três anos dentro do catolicismo indagando e examinando as escrituras. 
          Quando deixei o catolicismo não tinha idéia de ir a lugar nenhum, tinha apenas uma determinação que havia colocado diante de Deus. Não deixaria que atradição, fosse qual fosse usurpasse o lugar da verdade em minha vida. Deixo claro aqui que não quero ser um paladino da verdade, eu quero estar em paz com Deus e com todos os homens, e me orientar pela verdade, e cada pessoa faça com ela o que lhe aprouver, não sou e nem pretendo ser juíz de ninguém por que sei que o único ser que possui tal direito é Deus.
           Fora do catolicismo me envolvi numa igreja que havia surgido de uma cisão da Igreja Metodista do Brasil, que se tornou Igreja Metodista Renovada em Ribeirão Preto e uma nova cisão em Franca se tornou Comunidade Evangélica de Franca, que após uma intervenção do "apóstolo" César Augusto de Goiânia se tornou Ministério Comunidade Cristã. Neste último estágio eu já havia me filiado à igreja Presbiteriana do Brasil, onde fiquei por uns 16 anos e servi como evangelista por uns 4 anos. Muito do que pretendo compartilhar nesta caminhada com aqueles que quiserem andar comigo é fruto de todo este tempo conhecendo os homens e Deus e observando para aprender e espero que minhas palavras possam ser úteis para aqueles que desejam este encontro com a verdade. Aproveito para esclarecer que a verdade para mim não é um conceito filosófico ou racional o qual eu tenha obtido por mérito ou esforço. É apenas a manifestação da graça de Deus sobre mim aliada a responsabilidade de colocar meu candeeiro no velador. Que Deus possa abençoar sua vida e a minha com esta graça maravilhosa e quem tem ouvidos, ouça.

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