quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

PREGAÇÃO ALEGÓRICA, O QUE É ISSO?

Primeiramente, não concordo com o modelo de reunião ou culto como chamam as igrejas evangélicas, que por sua vez herdaram da igreja católica mudando só o nome de missa pra culto considerando apenas algumas diferenças. Falaremos sobre culto em outra oportunidade. 
Mas, já que ao chegar em uma igreja vou ouvir uma pregação, então prefiro que seja uma pregação verdadeira, extraída do texto e este é o problema da pregação alegórica que é o tipo de pregação que tem predominado nos lugares onde passo e principalmente nas igrejas que crescem.
Uma pregação começa com a interpretação, se alguém não sabe interpretar, então não saberá transmitir, neste quesito esbarramos em vários problemas a começar pelo analfabetismo funcional (deficiência que o leitor possui ao não compreender o que lê) até a distorção de textos para atingir o objetivo do pregador. Ambos influenciam neste panorama que vivemos. Muitos pregadores não entendem o que lê, o que me lembra este texto bíblico: E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? Atos 8:30. Muitas vezes falta humildade para buscar conhecimento antes de pregar, já que vai se lançar nesta direção, que se faça com fidelidade ao texto e para isso é preciso entendê-lo. O outro problema é que quando leio um texto preciso fazer a exegese do texto. O que é isso? Eu preciso extrair do texto o que ele diz e não o que eu quero que ele diga. Quando forço o texto a concordar com o que eu digo eu faço eisegese e é o que mais vemos nos púlpitos por aí. Muitas vezes por ignorância, por falsidade, por interesse e muitas e muitas vezes por fanatismo religioso, se determinado "homem de Deus" disse que é assim, então é. Então, pra pregar fielmente devo dizer o que o texto diz, para isso preciso estudar e procurar saber o sentido real do mesmo com auxílio de comentários sobre as línguas originais (grego, hebraico e aramaico). Bom, quanto a pregações podemos falar mais posteriormente.
Sobre a pregação alegórica então, que é nosso assunto temos as seguintes considerações: 
1) Ela não é uma pregação no sentido da palavra porque ela não preserva a fidelidade ao texto, ela segue a ideia do pretexto (um texto fora de contexto é só um pretexto). Neste tipo de pregação o texto citado está sempre desconexo com o assunto, então, o texto não tem utilidade real, só serve para apoiar o que o pregador quer dizer ainda que não tenha conexão com o mesmo. Em alguns casos, o pregador usa um objeto do texto como referência para tudo o que vai dizer. Ex: as raposinhas na lavoura dos filisteus. Este é o texto: E aconteceu, depois de alguns dias, que, na sega do trigo, Sansão visitou a sua mulher, com um cabrito, e disse: Entrarei na câmara de minha mulher. Porém o pai dela não o deixou entrar.E disse-lhe seu pai: Por certo pensava eu que de todo a desprezavas; de sorte que a dei ao teu companheiro; porém não é sua irmã mais nova, mais formosa do que ela? Toma-a, pois, em seu lugar. Então Sansão disse acerca deles: Inocente sou esta vez para com os filisteus, quando lhes fizer algum mal. E foi Sansão, e pegou trezentas raposas; e, tomando tochas, as virou cauda a cauda, e lhes pôs uma tocha no meio de cada duas caudas. E chegou fogo às tochas, e largou-as na seara dos filisteus; e assim abrasou os molhos com a sega do trigo, e as vinhas e os olivais. Juízes 15:1-5. Na alegoria do pregador só ficam as raposas. Ele vai falar que assim como as raposas fizeram mal à lavoura dos filisteus, algumas raposas entram em sua vida para te fazer mal. Nomeiam-se algumas raposas e como você deve lidar com cada uma delas. Outro exemplo bastante usado: Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece. Filipenses 4:13. Em pregações assim usa-se apenas um versículo e se referem aquela multidão de situações problemáticas da vida para dizer que podemos vencer todas. Podemos vencer a pobreza, podemos comprar carro zero, nos tornar empresários, comprar mansões, dar grandes ofertas na igreja, etc... sem considerar o contexto do que foi escrito. Vejamos o texto todo: Ora, muito me regozijei no Senhor por finalmente reviver a vossa lembrança de mim; pois já vos tínheis lembrado, mas não tínheis tido oportunidade.Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece. Filipenses 4:10-13. Paulo está falando de estar contente em viver da maneira que Deus queira seja com abundância ou com necessidade. Então negligencia-se o termo necessidade e dá ênfase apenas a abundância, nega-se que os filhos de Deus padeçam necessidades.
Há ainda um grande número de pregações assim por todo lugar. Não sei de onde tiram tantos leões pra matar todo dia que tanto crente viva atrás de vitórias. Este dia, este mês, este ano eu vou conquistar a vitória. Sabem porque este tipo de pregação? Porque assim você fica preso neste sistema que te diz que você é um derrotado constante mas que um dia vencerá, porque "Deus é fiel". São só frases de efeito pra te aprisionar, se quer ser um pouco mais livre, fuja destes pregadores positivistas e que não pregam a verdade. Quem tem ouvidos, ouça.

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